Faltam-me palavras, mas sem enrolar:
1. Como se prova que x não existe?
Concedo que no caso de “unicórnio”, “bode-cervo”, “Papai Noel”, e qualquer outra “quimera” que se queira mencionar, pode-se, por exemplo, sair-se por aí tentando encontrá-los. Porém a pergunta e a única pergunta que faço é: o que é que se pode mencionar que pressuponha a própria noção de existência? O que é que se pode inventar e imaginar que pressuponha a própria afirmação de que existe? Ou se digo que algo é anterior à existência, por que alguém iria querer provar a existência de algo anterior à existência? Por que seria necessário? E que sentido faz provar a “existência” de algo que é anterior a qualquer outra coisa que se possa conceber, anterior até ao “é” e ao “existe”?
2. Se porventura há um x anterior a qualquer outro termo, provar sua existência não é uma petição de princípio?
Se afirmo que há um princípio sem o qual nada decorre, sem o qual não há mais o que se dizer, como é que se prova esse princípio?
Todos sabemos que princípios não se provam.
3. A linguagem a respeito de ser, existir, essência e existência é vaga
Muito se fala sobre a falácia etimológica. Mas se todos os sistemas lógicos pressupõem certas noções primitivas ou pelo menos anteriores a esses próprios sistemas, e a maneira como se monta um sistema simbólico é por meio de noções primitivas ou pelo menos anteriores a esse sistema, pergunto: como Frege ou Russell fariam para montar seus sistemas simbólicos ou mesmo notações lógico-matemáticas sem a língua alemã ou sem a língua inglesa como suportes anteriores, sem esses andaimes, sem esse scaffolding?
Não estou dizendo que tudo é um castelo de areia, mas sem as línguas naturais, como o homem faria para montar seus sistemas simbólicos? Como criaria suas notações, como ensinaria a outros como funcionam seus operadores?
E se ser ou existir é ser o valor de uma variável, qual é o significado de “ser” (com ou sem aspas), de “existir”, de “valor” e de “variável”?
Mesmo uma filosofia do senso-comum tem de partir de algum lugar. E a própria ideia ou noção ou o que quer que se queira chamar de “senso-comum” (com ou sem aspas) é vaga. E mesmo aqui seria possível perguntar ao infinito: e o que significa isto a que você chama de “vago”?
— “Ah, mas você não sabe o que é o senso-comum? Então não dá para falar com você.”
Okay, talvez esse seja o caso. Talvez seja mesmo o caso de que a ideia de comunicação ou da possibilidade de comunicação é mesmo uma realidade! E de que podemos ver no dia-a-dia o quão bem a humanidade se comunica e se entende…
Podemos fazer coisas com as palavras? Talvez a vida siga, sistemas informacionais funcionem na prática, aviões decolem, se mantenham no ar por um tempo e pousem, a economia continue girando e o mundo de pé, mas isso de novo é uma petição de princípio, porque justamente begs the question of communication itself, of language itself.
O círculo sempre se fecha perfeitamente e a vida segue adiante.
4. O que significam “metafísica”, “lógica”, “ontologia”? Falar da história dessas palavras, desses conceitos, dessas “áreas do saber” é válido somente num sentido poético de “válido”?
Talvez eu e apenas eu esteja preso num círculo metalinguístico, mas é isso que a linguagem faz: joga jogos linguísticos. E, para ser sincero, eu não sei se entendo as regras desse jogo. Ou desses múltiplos jogos das “áreas do saber”.
E eu disse que não ia enrolar, então paro por aqui. Não é nem esquizofrenia, é oligofrenia mesmo. Sou incapaz de entender. E como eu posso afirmá-lo? Não faço a mínima ideia.