To the best of my abilities, tenho de testemunhar ou dar um testemunho, o qual, por sua vez, está desde já sob o escrutínio de meus pares.
Método:
Passo 1: História do conceito como preparação ou “propedêutica” com o fim de fazer um juízo histórico ou filosófico do sucesso ou insucesso, ou felicidade, daquilo que meus pares humanos fizeram no passado. Se eu não fizer, de que adianta todo o esforço das gerações que vieram antes de mim?
Reconstruir seus passos em meu espírito, intelecto, em minha mente, ou memória, implica justamente honrá-los ou, ainda, honrá-los justamente, de maneira equilibrada ou equânime. E só posso fazê-lo porque também sou homem como eles foram “homem”, ou homens históricos.
Eu, na juntura histórica em que me encontro, também como da mesma espécie e do mesmo gênero humano, embora de quilate diverso, não só posso como devo fazê-lo. Não há outro exercício, não há outra coisa a se fazer a não ser tomar essa atitude reflexiva, que, ao mesmo tempo, coloca-me como espelho humano da empreitada filosófica humana, a qual, sendo filosófica, só pode mesmo ser humana, e não divina.
Afinal, um ser infinito, de infinita sabedoria, jamais precisaria buscar o que já é superabundante em relação a si mesmo ou do qual é toda a fonte, pois Deus é a única e suprema sabedoria, cujo princípio para o homem é o temor.
Só o temor a Deus é princípio da sabedoria. A filosofia, assim, só pode ser a medida, finita e precária, do homem, mesmo que o homem seja a imagem de Deus. A filosofia não pode nunca ser ou querer ser mais do que é, o que quer dizer puramente humana, embora paradoxalmente aspire ao mais alto que é Deus, o inefável, Aquele que nos fala por revelação e do qual devemos falar apenas na medida e na régua de Sua revelação. E isto nem teologia é, pois a teologia mesma é um desenvolvimento filosófico para colocar Deus e sua revelação numa sistemática, às vezes axiomática e/ou lógica, que é apenas humana.
O homem em sua compreensão de Deus e de sua criação, do universo, da natureza, só pode enxergar a si mesmo, pois toda a física é escrita nos limites do entendimento e da imaginação do próprio homem. E a isto, grosso modo, chama-se princípio antrópico.
As leis da física se expressam sempre (ou quase sempre?) em termos e medidas científicas ou racionais, porque a compreensão científica do universo depende da percepção, e a percepção é sempre uma medida estatística de uma realidade, por assim dizer, ilusoriamente externa, porque os olhos são uma extensão do cérebro, assim como somos uma extensão da natureza e do universo; e ambos só podem ser concebidos e conceitualizados por causa da capacidade humana da linguagem e para a linguagem. Assim, enxergamos e concebemos o mundo sem entender exatamente como e por quê. Mas este como e este porquê são tanto extrínsecos, porque divinos e dependentes de Deus, como intrínsecos, porque inatos: nascemos já capazes da linguagem humana; dela somos dotados, o que quer dizer que ela, a linguagem, é-nos uma dádiva.
Essa linguagem vem com ela embarcada medida e razão, proporcionalidade e analogia. E com ela tudo ou quase tudo podemos conceber e conceitualizar. E por mais que a possamos formalizar, dela nunca podemos fugir.
A linguagem é o fogo prometeico de toda possibilidade expressiva humana, desde a lógica-matemática até todas as artes, estendendo-se a tudo que o homem pode dizer por quaisquer meios. A linguagem é o intermédio para o qual –
Ela é um meio para um fim, uma finalidade. Mas mesmo presente divino da qual somos dotados, ela é humana. E, sim, Deus pode falar a língua dos homens, a língua dos anjos, a língua da criação que é Deus.
Mas a Deus tudo é possível, até quebrar paradoxalmente os limites de toda medida ou “racionalidade”, ou quiçá “razoabilidade” humanas. Deus é absolutamente livre e soberano a respeito de tudo que possamos conceber, e também do que não podemos conceber.
Obviamente, porém, não sabemos o que não podemos ou o que não temos a capacidade de conceber.
O incognoscível é um “ignorabimus” incontornável, o que não quer dizer que devamos desistir de toda empreitada científico-matemática. Não nos é dado, porém, tornar o absolutamente impossível em seu contrário. E isto é um “constraint” ou uma limitação de nossas capacidades, inerentes a toda linguagem humana e a toda percepção, embora tenhamos acesso a algo do invisível a nossos olhos, aos nossos sentidos.
Até onde a ciência e o conhecimento necessariamente humanos podem ir só Deus sabe. É-nos, porém, impossível vermos e sabermos tudo que Deus “vê” e “sabe” porque o “como” vemos e sabemos não é o “como” de Deus, visto que pela própria medida humana somos criaturas finitas criadas ou nascidas da palavra de um criador infinito. E isto põe um limite ao homem.
A escassez ou a abundância de escassez e também de precariedade é o que de nós fazem quem somos enquanto espécie, e experimento divino. Até aí a linguagem alcança, até onde consigo, neste momento e ponto histórico, enxergar.