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Ser Surpreendido pela Esperança e Não Se Permitir Demitir-se

[…] E em termos da grande imagem da nova criação, da qual estamos falando no livro todo, o que devemos dizer é o seguinte: [aquele que se converteu] é uma pequena parte que vive e respira a “nova criação” — aquela nova criação que já começou a acontecer na ressurreição de Jesus e que estará completa quando Deus finalmente fizer seus novos céus e nova terra e nos levantar para partilhar daquele novo mudo. Paulo o formula deste modo: “Se alguém está em Cristo — nova criação!” (2 Cor 5:17)

Colocando o assunto assim, evitam-se três problemas em que todo evangelismo [ou toda evangelização] pode esbarrar. Primeiro, torna claro que tornar-se cristão não é ter dizer não ao bom mundo que Deus criou. Implica, claro, virar as costas para toda corrupção em que o mundo caiu e na qual cada indivíduo caiu. Às vezes aqueles que se convertem irão precisar dizer um firme não às coisas que são más por si mesmas (álcool, por exemplo) a fim de pôr um claro espaço entre eles mesmos e os hábitos ou padrões de vida que antes os emprisionavam.

Segundo, ver o evangelismo [ou a evangelização] em termos do anúncio do Reino de Deus, do senhorio de Jesus e da consequente nova criação, evita do começo qualquer sugestão de que a principal coisa que aconteceu é que o novo cristão entrou num relacionamento privado com Deus ou com Jesus e que esse relacionamento [privado, interno, particular] é a única coisa que importa. (Algumas músicas cristãs populares atualmente parecem sugerir isso de maneira excessivamente frequente, como se a única coisa que importasse sobre as boas novas fosse que Jesus iria tomar o lugar da minha namorada ou do meu namorado.) Ver o evangelismo [ou evangelização] e quaisquer conversões resultantes em termos da nova criação significa que aquele que se converteu recentemente sabe desde o começo que ele ou ela é parte do projeto do Reino de Deus, que vai além de “eu e minha salvação” para abraçar, ou em vez disso ser abraçado, pelos propósitos de Deus mundo afora. Com a conversão haverá então, pelo menos em princípio, o chamado para encontrar onde [ou de que maneira específica] neste projeto inteiro [do Reino de Deus] alguém pode contribuir. (O fato de que esta vocação [de como alguém trabalha para o Reino de Deus] frequentemente leva tempo para ter uma resposta não significa que não se deve esperá-la desde o começo [da conversão].)

Terceiro, colocar a evangelização e a conversão no contexto da nova criação significa que aquele que se converteu, que ouviu a mensagem em termos do soberano e salvador senhorio de Jesus ele mesmo, nunca estará inclinado a pensar que o comportamento cristão — dizer não às coisas que diminuem o florescimento humano e a glória de Deus e dizer sim às coisas que aumentam [esse florescimento] — é [apenas] um extra opcional ou simplesmente uma maneira de entender algumas regras e regulamentos bem esquisitos. Alguns tipos de evangelização no passado davam a entender que o que importava era apenas assinar embaixo, orar uma oração específica, a qual resultava na segurança de que seu caminho para o céu está salvaguardado — e falhava em mencionar, para a frustração de muitos pastores e professores que tentavam cuidar desses que se converteram, o fato de que seguir Jesus significa apenas isso, seguir Jesus, e não preencher uma caixinha num formulário que diz “Jesus” e então sentar-se [quietinho num banco] como se estivesse tudo feito [e terminado]. Ao invés disso, para que se possa falar a respeito do senhorio de Jesus e da nova criação, que resulta em sua vitória no Calvário, e [para falar] na Páscoa, é necessário ao mesmo tempo confessar a Jesus como Senhor e acreditar que Deus o levantou dos mortos permitindo que sua vida seja reformada [reconstruída, refeita] por Deus, sabendo que embora será doloroso de tempos em tempos, este será o caminho não para uma vida menor [e mais chata!] mas sim para uma vida humana genuína aqui no presente e para uma vida completa, cheia de glória e ressurreta no futuro [!] Como qualquer outro aspecto da nova criação, haverá surpresas no caminho. Mas a ética cristã só terá a ganhar se entendida como uma expressão da esperança cristã [!]

Traduzido ao meu modo de Surpreendido pela Esperança — Repensando Céu, a Ressurreição e a Missão da Igreja de N. T. Wright, publicado em 2008 [paperback, capa laranja-amarelinha, 2018], pp. 228-230.