web analytics

Aonde Eu Quero Chegar

Vamos lá. Meu propósito com este blog é sair da letargia e da paralisia. De um estado de luta, fuga, ou paralisia. Fugir ou ficar paralisado, portanto, não são as respostas. Só resta a luta. Eu poderia sonhar ou ficar sonhando com o sétimo dia, o dia do Shabbath, aquele em que o fim de tudo é o repouso. E o repouso é importante, claro, não me entendam errado. Mas o repouso representa apenas 1/3 da resposta, ou do dia. Por isso se repousa durante a noite, ou seja, para que durante o dia se lute. E se lute como um leão? Não sei. Se eu lutar como um leãozinho, hah, já está bem. Que o Leão de Judá faça o seu trabalho e eu faça o meu. E, não, não consigo evitar “metáforas” de todo, mas posso tentar começar a dosá-las de forma que eu não canse nem a mim mesmo, nem ao leitor. Mesmo numa briga num ringue os lutadores permanecem num estado de expectativa, num repouso calculado que tem lá seu propósito e só atacam quando é o melhor momento.

Ainda assim, preciso corrigir-me o tempo todo. E, de novo, escrever este blog tem este propósito: não o de enunciar o que está escondido e ninguém mais está vendo, como se eu fosse o espírito absoluto hegeliano detentor de todas as verdades “debaixo do Céu” ou do “véu da história”, ou talvez, um profeta do Antigo Testamento que pousou no planeta Terra em 2025. De novo: a correção aqui neste exato momento consiste em reconhecer que por mais que eu veja que as amígdalas do sistema límbico do cérebro exercem seu papel fisiológico, ainda assim a realidade é mais complexa. Não se pode resumir o ser humano a elas, nem ao sistema límbico; nem ao cérebro ele mesmo, aliás. Não nos resumimos a um cérebro no vácuo, por assim dizer; o cérebro é só mais uma parte do corpo. Somos assim, mente, corpo, cérebro, matéria, forma, e por aí vai. Sim, podemos distingui-los, mas há uma certa beleza na recuperação do (1) hilozoísmo tout court e no (2) hilomorfismo aristotélico. Além disso, pelo que venho percebendo, há uma tendência recente em se considerar a consciência não como um fenômeno meramente humano; talvez, sim, toda a matéria seja ela consciente e, por que não, inteligente! A isto chamo também hilozoísmo, embora talvez se devesse chamá-lo de hilozoísmo inteligente, hah. E também existe uma tendência a se considerar (1) ou alguma forma de embodied cognition, em que o corpo humano é ele mesmo cognoscente — não vou me ater a nomes neste momento, mas reconhecer que há uma tendência em psicologia cognitiva e na ciência cognitiva em geral em levar o corpo mais a sério, tirando-nos de uma armadilha dualista em que mente e cérebro, por um lado, estão em oposição ao corpo, por outro lado; (2) ou alguma outra forma, a qual também compete no mercado das ideias, em que se afirma que toda representação mental é acompanhada de antemão de alguma racionalidade…, e é por causa dessas tendências que venho escrevendo os posts que escrevo. Tento lá dar a minha contribuição, se é que ela faz sentido, não exatamente argumentando mas ventilando a ideia de que toda a realidade é, digamos assim por enquanto, enformada ou formada pelo lógos, ou pela linguagem, ou pela “lógica”, pela “analogia” matemática, pela racionalidade enquanto um meio do lado esquerdo do cérebro computar ou processar não só os dados dos sentidos, mas a isto tudo que se chama de realidade, uma palavra ela mesma não só filosoficamente mas cientificamente problemática, pelo menos para mim, por ora.

Assim, voltando ao fio inicial que eu ia tentando tecer, não se trata apenas de lançar-me num movimento contrário à paralisia e à fuga. A primeira mais afeita a uma certa afasia, a um calar-se e próxima a uma resignação ou mesmo um mero desistir. Não falar, não escrever, envergonhar-me do que escrevo e da forma como o faço não deixa de ser uma dismorfia, um não me aceitar tal qual ou tal como eu sou. E aqui estamos beirando à pieguice e à auto-ajuda, mas eu não vou procurar palavras mais bonitinhas para fugir a esses rótulos. Se é piegas o que faço, se é algo próximo à auto-ajuda, que assim seja. Não quero sinceramente ficar preso até o fim da vida num processo neurótico de auto-recusa e de não aceitação. E o ponto aqui, mesmo assim, não é também glorificar-me a mim mesmo ou aceitar tudo como se dá. A recusa pede medida, moderação e ponderação. E, sim, estou tentando dizer que há um momento para tudo. Tudo tem sua hora e o seu momento, blá, blá.

Legal, bacana, e o que mais?

Venho escrevendo sem parar sobre essas noções misteriosas do “outro” com letra minúscula e também do “Outro” com letra maiúscula. Filosoficamente eu poderia dizer que estou falando da alteridade. Não seria chique? Mas algumas palavras parecem tão gastas… não sei. De todo modo, o ponto é reconhecer que os outros não são o inferno e que Deus mesmo não pode ser, de modo algum, mau. Digamos que o ódio não faz sentido. Não faz sentido que eu me odeie, que eu odeie o próximo ou o meu vizinho ou que eu odeie Deus e sua criação, que originalmente, devo reconhecer, é plenamente boa. Algo, porém, deu errado no meio do caminho e, claro, isto não estava “previsto” por um criador onisciente, que é Deus, mas estava “em mente”; de algum modo que ninguém parece entender, Deus sempre foi, é, será consciente do pecado original e da necessidade, desde o início, de um plano ou enredo da redenção, ou pelo menos é assim que conseguimos conceber o problema, isto é, por meio de um plano ou enredo redentivo. Não quero entrar aqui na loucura que é ficar discutindo eternidade e presciência ou eternidade e onisciência, livre-arbítrio, soberania divina, etc. Até onde sei, Jó mesmo, aquele herói de tantos, tentou fazer isso, tentou quase lá pelo fim da estória julgar a Deus e a maldizer o ventre de sua própria mãe que o concebeu. Sim, Jó amaldiçoou o ventre de sua própria mãe que o concebeu, repetindo-me. Nenhum ser humano é pleno o suficiente, cheio de si o suficiente, para que consiga responder a uma das perguntas que a teofania do torvelinho faz a Jó: “onde estavas quando eu criei o mundo?”, etc., etc. De certa forma, temos que nos colocar em nosso lugar, e por isso eu escrevi um post a respeito do lugar de fala humano. Ainda mais frente aos avanços da IA, da superinteligência que os nerds do Vale do Silício acham que vão trazer ao mundo, como se deuses fossem criando um super-Deus. Por mais poder de computação que se possa juntar, por mais energia nuclear, solar, eólica, gasosa, etc., que se possa juntar para dar suporte a esta superinteligência, porém, o defeito do projeto é que ele é humano. Mesmo que se construa um pseudo-cérebro no vácuo com uma capacidade de computação 1 bilhão, 1 trilhão, 1 seja lá o que for vezes maior que a capacidade de computação (ou de contar) do homem, o que se está criando não é um novo deus ou o deus dos deuses. Nem se está sequer criando o próximo passo da evolução, o homem depois do homem, o super-homem, o além do homem. Sei lá, posso estar errado, mas estou disposto a pagar com a minha vida responsabilizando-me pela tola ideia de que o ser humano é ele mesmo tolo. E que por mais que se possa tentar criar algo super duper ultra mega grande e poderoso, este esforço é vão para compensar por mais alguma coisa que nos falta ou por aquele vazio que parecemos carregar conosco. Mas ao mesmo tempo talvez Peter Thiel não seja o anticristo. Talvez Elon Musk não seja o anticristo. Nem aquele que vai conter o anticristo. Talvez o que eles estejam tentando fazer, e aqui eu deveria mencionar a Meta de Mark Zuckerberg; a Amazon de Jeff Bezos; o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, da qual o Google é subsidiária desde 2015…; a OpenAi do ChatGPT do CEO Sam Altmano CEO da NVidia, Jensen Huang…, o atual CEO da Apple, Tim Cook… enfim, talvez todo esse trabalho e esse struggle não sejam em vão. Porque por mais que eu tenha aprendido o hábito de dizer que no fim das contas tudo é vão e vazio, “vaidade das vaidades”, etc., talvez mesmo esta forma de trabalho, como quer que se a queira chamar, não é ela mesma em vão, porque nenhum trabalho em nome do Senhor é em vão. O problema é quando não se tem o temor do Senhor como limite ou ponto de partida. Aí talvez seja mesmo em vão e talvez o endgame de Peter Thiel seja acelerar tudo para mostrar a completa falência do projeto baconiano do início da Modernidade. E com isso não voltaremos para “a Idade das Trevas”, para o feudalismo, ou para a Antiguidade Clássica. Nem sei se algo como o Renascimento é o que está em jogo. Talvez, de novo, o endgame de Peter Thiel seja deixar Silicon Valley se esgotar por completo para apontar o dedo para uma realidade que sempre foi maior, infinitamente maior. E, assim, por mais que eu não queira, encerro mais este post de maneira um tanto críptica, embora tudo que eu faça seja sempre dizer obviedades e o óbvio. Por mais que eu o esconda no que poderia ser considerado mera verborragia. Okay, talvez seja isso: mera verborragia ou um contínuo exercício de lamentação ou sorrow atrás de sorrow. Mas não é em direção a meras palavras repetidas sem parar, com alguma variação, o fim a que almejo.