O homem visa ao bem. Ou visa a bens. Todos esses bens específicos estão inelutavelmente ordenados ao bem último e supremo, ao summum bonum. Mesmo “desordenados”, fora de rumo, assim estamos ainda em relação ao próprio rumo em si. Não há desvio de caminho sem que se pressuponha antes um caminho (a ser trilhado); nosso rumo nos é dado de antemão, mesmo que dele possamos querer fugir como um Jonas que toma o caminho inverso: oposto àquele que tínhamos sido vocacionados, ou ao qual havíamos sido chamados. Assim, de bom grado ou não, nosso destino final é Nínive, gostemos ou não; queiramos ou não, nossa vocação independe de inclinações efêmeras de humor; estejamos com vontade ou não; ou seja, mesmo que de má vontade e com birrinha, há Alguém muito, muitíssimo, infinitamente maior do que nós mesmos, um certo Quem soberano, que nos compele, a despeito de qualquer coisinha momentânea que nos impele, ou que a nós apele.
Porque o Mesmo que nos compele também nos impele quando a Graça nos interpela e nos move de volta ao caminho do que é simplesmente bom. Ou, sei lá, bom e simples.
É claro que nessa bagunça toda clamamos e apelamos. O estoico, por outro lado, não conhece o desespero nem a esperança e morre tranquilamente afogado, como um bom greco-romano. Mas o estoicismo não é o assunto aqui. Deixemos os melhores e maiores em sua inexorável imperturbabilidade, ou ataraxia. E os céticos também, cujo caminho é o mesmo. Zenão de Cítio e Carnéades de Cirene, ou Marco Aurélio e Sexto Empírico, restaram em paz em vida, então não convém perturbar ou remexer seus tão belos e perfeitos ossos com aparentes quimeras, ou coisas de somenos quilate e prestígio.